“O governo grátis pode acontecer em qualquer lugar. Basta que as condições políticas e econômicas se tornem propícias ao surgimento de atores que irão organizar seus interesses em torno do domínio das instituições do Estado”.
“O governo grátis é o grande adversário da prosperidade e o inimigo número um da ascensão social e patrimonial dos brasileiros”.
“A indústria nacional obteve créditos subvencionados, a taxas fixas no então BNDE, muito abaixo do curso da inflação crescente. […] Os pesados custos do financiamento inflacionário do País foram sendo contornados, pagos e ‘apagados’ por emissões de moeda escritural nas contas especiais dos bancos oficiais. Poucos se deram conta de que tudo aquilo era obra de uma variante de governo grátis em plena gestação”.
“Na década passada, praticamente não houve redução no custo financeiro médio enfrentado pela maioria das empresas. Evidentemente, as mais poderosas têm acesso diferenciado a fontes externas ou a créditos de fontes públicas, especialmente do BNDES, especializado em selecionar as ‘maiores e melhores’. Não é o caso da imensa maioria de empresas brasileiras, em geral as de porte médio ou pequeno. Essas têm enfrentado o mesmo patamar de custo financeiro desde o período de crise, no início dos anos 2000”.
“[…] o produtor nacional é maltratado dentro do País, com impostos cavalares e burocracia ineficiente; na tentativa de compensar o empresário pelo mau tratamento, o governo grátis vende a ideia de alinhamento com o empresário por meio de medidas de proteção”.
“O povo brasileiro quer treinamento e trabalho. Quer aposentadorias e pensões compatíveis com o que cada trabalhador, ao longo da vida, construiu de pecúlio e merece gastar como quiser. O povo quer, daqui para a frente, ser dono de parte do capital do Brasil. O Estado não o representa nisso”.
Esses são trechos do excelente livro O mito do governo grátis, escrito pelo economista Paulo Rabello de Castro em 2014. Poucos anos depois, quem diria!, o autor se tornou presidente do BNDES. E mais: em apenas 45 dias no comando, veio a público defender a política do banco nas últimas décadas, inclusive na era petista, até mesmo nas operações com a JBS. Centenas de bilhões em subsídios, sem transparência, direcionados a poucos e grandes grupos: o oposto do liberalismo.
Isso mostra como o poder de minorias organizadas, de oligarquias, realmente corrompe. E comprova a importância de liberais focarem em seus princípios, não em pessoas — essas podem decepcionar muito, enterrar tudo aquilo que defenderam ao longo de uma vida em poucos dias dentro do esquema de poder.
É, também, o argumento definitivo de que não basta trocar o comando; é preciso acabar com o instrumento, fechar o banco!
Ricardo Bergamini
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