Existe um arranjo social sem contradições morais?

Quando o PSDB passa a ser visto como uma opção de direita, fica claro que, por essas bandas, não se sabe o que é direita, esquerda e muito menos onde estão os liberais e capitalistas nesse contexto.

Não vou usar este espaço para explicar a origem destes termos, se você desconhece e é preguiçoso o suficiente para não realizar uma rápida busca na web, lamento, mas você não me interessa como leitor.

O PSDB, partido da social democracia brasileira – como o próprio nome já deixa claro com o “social democracia” – é uma vertente da esquerda “light”.

Em 88 quando o partido nasceu, o fracasso das políticas socialistas (esquerda) e a crueldade do comunismo já começavam a dar as caras. Com a derrocada da URSS, alguns corajosos dissidentes expunham as miseráveis condições de vida dos cidadãos de países socialista.

Com isso, começava a ficar obsceno fundar mais um partido intitulado de esquerda, como o PT, PC do B, PDT e outras tantas aberrações que, mesmo com quase 100 anos de história de misérias causadas por suas ideologias seguem descaradamente defendendo-as.

O princípio ideológico da esquerda é que deve haver um governo que tenha o monopólio do poder de repressão, preferencialmente que os cidadãos não tenham direito ao porte de armas, afim que este governo possa atuar de forma redistributiva, teoricamente taxando uma parte da população e repassando para a parte menos favorecida.

A primeira vista pode até parecer um propósito nobre, porém, não passa numa breve crítica moral.

O poder de taxar é roubo, é imoral por essência, não posso tirar com o uso da força, via capangas da receita federal, a propriedade ou o dinheiro de quem quer que seja. Se você acha isso justificável, possivelmente você é um invejoso que torce para ver qualquer um melhor sucedido que você sendo extorquido pelo estado.

A esquerda light, como o PSDB e uma tradição de partidos socialdemocratas que chegaram ao poder principalmente na Europa, se apoia neste entendimento, porém, diferentemente da esquerda radical como o PT, PSOL e PC do B, por exemplo, optaram por um discurso mais ameno, e por práticas de taxação ligeiramente menos abusivas. O que não excluí o fato de serem de esquerda e seguirem levando países para o buraco.

Já a esquerda assumida (PT, PSOL, PDT, PC do B, REDE e o escambau), tem ideologicamente os preceitos socialistas e ignoram o fato do socialismo ter sido trágico em todos os momentos em que foi colocado em prática.

Matou de fome pelo menos 45 milhões na China,condenou Cuba a um retrocesso de um século e a imensa maioria da sua população à condições de subsistência, fez da Coréia do Norte um imenso espaço de tortura a céu aberto, que em pleno 2015 ainda tem pelo menos 30 campos de concentração com trabalho escravo.

Fez com que a Venezula, absurdamente rica em petróleo, não tivesse nem papel higiênico, a Argentina, que há centos e poucos anos era uma das maiorias economias mundiais, ficasse sem açúcar, farinha e água sanitária.

Sem falar outras aberrações como a separação da Alemanha em duas através de um muro que impedia as pessoas do lado socialista a atravessar a fronteira, (vocês percebem o quanto isso é grotesco?) as pessoas tentaram passar até de asa-delta para o lado capitalista, ou dos genocídios ucraniano e armênio, e os gulags.

Mesmo com todos esses fatos, com uma conta que deve chegar aos 200 milhões de mortos, partidos como o PSOL, e figuras como a Luciana Genro e Manuela D’avila, seguem despudoradamente defendendo estes princípios. Isso é a esquerda, uma ideologia que não vê mal algum em esmagar o indivíduo em prol de supostos bens maiores para a sociedade como um todo. Uma crença para sádicos e invejosos.

A direita antagoniza um pouco com estas questões ao zelar pelo respeito a algumas instituições e um pouco de liberdade para que as pessoas comercializem entre si, entende o estado com um papel ligeiramente menor e definitivamente não matou um décimo do que a esquerda matou.

Porém, esquerda e direita são irmãs de nascimento. Ambas entendem o estado como primordial para a vida em sociedade. A esquerda acha que o estado serve para ditar o que deve ser feito com o fruto do seu trabalho, e a direita acha que ele serve para ditar seu comportamento pessoal, que tipo de drogas você pode usar, com quem você quer dividir sua vida e que tipo de escolhas são boas para você.

Ambas ignoram o fato da natureza do estado ser imoral.

O conceito do governo nasce da premissa do roubo. Se uma sociedade entende como imoral a existência de uma instituição com o poder de se apropriar do dinheiro e posses dos seus cidadãos, o estado não brota.

Com isso, a direita, ainda que menos inescrupulosa, é também uma alternativa de organização social imoral. Que pode ser considerada apenas e enquanto exercer um papel de combate à esquerda, sua existência só é justificada neste âmbito.

As únicas alternativas de organização social que se sustentam numa análise ética, são a alternativa liberal e a anarco-capitalista.

A primeira entende que a existência de um estado mínimo é tolerável, e que o papel deste estado seria exclusivamente assegurar a não-agressão e o respeito aos direitos de propriedades. Todas as demais funções e demandas da sociedade devem ser auto organizadas, ninguém deve ser coagido a pagar por algo que não queira, e ninguém será beneficiado com algo tirado com o uso da força de outro cidadão.

Já o anarco-capitalismo, acredita que nem mesmo esta função deva ser exercida pelo estado, visto que, a tendência de qualquer instituição com este poder é crescer.

Então, mesmo que ela comece com uma função mínima, em poucos anos esta instituição já estaria estendendo seus tentáculos para outras áreas da sociedade. Este é um dos pontos de debates entre dois gigantes da tradição liberal, Ludwig von Mises, que aceitava o papel quanto a defesa – talvez por ter vivenciado as duas Grandes Guerras -, e Murray Rothbard, aluno de Mises que percebeu o perigo nesta exceção.

Isto posto, os anarco-capitalismos, ou ancap’s como Rothbard, acreditam que a sociedade e os homens podem se auto organizar através da cooperação social voluntária, que o mercado é um arranjo de cooperação social espontâneo, que nasceu naturalmente das relações entre as pessoas. E que todo tipo de serviço, inclusive segurança, pode ser fornecido pelo mercado, que na prática, são os indivíduos.

Acreditam que ninguém deve ser obrigado a nada, e ninguém tem direito a nada de outra pessoa, apenas o direito a sua própria vida e a utilizar sua capacidade intelectual para buscar seus meios de subsistência e sua realização pessoal.

Acreditam no comércio e nas relações contratuais, entendem que o governo não passa de um intermediário violento de todas as relações humanas. Vocês não encontrarão ancap’s disputando cargos públicos, ainda que alguns políticos como o Ron Paul, por exemplo, participem desse arranjo afim de diminuí-lo de alguma forma.

Ao refletir sobre isto não é necessária uma grande análise ética para perceber qual dos arranjos é o único que parte de uma premissa sem contradições morais e contemplar as possibilidades num arranjo de economia livre. Assim como a história nos mostra a crueldade da esquerda, ela também nos mostra a beleza e a prosperidade que um grau maior de liberdade econômica pode promover.

O arranjo pode parecer utópico, mas quando penso nos nossos ancestrais neandertais, no quanto a violência era presente, no poder do bando e no domínio do mais forte, e percebo que chegamos até a música, por exemplo, conseguimos como espécie realizar uma transição, – ainda que temporária, pois se pensarmos na força estatal e seus cassetetes ainda lembram muito nossos antepassados -, alguns de nós adquiriram uma sensibilidade que permite criar e ouvir música, apreciar e se sensibilizar com algo tão fugaz, estabelecer uma conexão subjetiva entre o compositor e milhares de ouvintes.

Quando olho para isso me pego com esperança na humanidade. Com um sentimento de profundo otimismo. Acreditando que um dia ainda seremos civilizados ao ponto de não acharmos correto usar da ameaça da violência (prisão, multa) para extorquir nossos semelhantes, respeitarmos até nossos menores acordos verbais e contemplarmos a beleza da liberdade.


Autor: Giancarlo Giacomelli

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