Esboço acerca do jovem brasileiro

                Sabemos o quão controverso era Arthur Schopenhauer, porém não é diminuta a qualidade de sua obra.  Em sua masterpiece “As Dores do Mundo” Schopenhauer dedica um capítulo intitulado: “Esboço acerca das mulheres”, que relata em linhas gerais o que ele via de problemática nas mulheres que lhe eram contemporâneas (lembrando que o livro é de 1850) e apontava os porquês de nossas divergências para com elas, e recentemente ao reler esse magnífico livro cheguei a conclusão de que sua visão a respeito das mulheres se tornou claramente obsoleta e distante da realidade, porém se tornou a figura caricata do jovem brasileiro dos dias atuais. O que tentarei fazer abaixo é uma breve recontextualização desse trecho da obra de Schopenhauer o qual chamarei de “Esboço acerca do jovem brasileiro”.

                Já no começo Schopenhauer abre dizendo: “Não é feita para grandes esforços, nem para dores ou prazeres excessivos…”, os jovens de hoje também não, e os jovens de hoje – lê-se nascidos depois da década de 90 quiçá 80 – estão acanhados, melhor, são acanhados. Cheios de si, envoltos por um mundo que lhes fez acreditar que são as coisas mais lindinhas e queridinhas do cosmo, seus esforços, seja para os estudos ou para os trabalhos são limitados por um fascínio a uma cultura do tédio e da burrice, onde o simples ato de não fazer nada lhes parece mais atrativo do que, fazer algo, onde a vaidade os transforma em inaptos inatos. Desde muito cedo aprendemos a admirar os mais inaptos e incapazes, criamos afeto e admiração pelos apedeutas, faz parecer que o fato do indivíduo assumir sua incapacidade plena, é um ato de bravura e honradez, tão maior do que ir atrás da concretização de algum projeto ou realização. Para as dores, fica evidente a incapacidade de senti-las, quanto mais superá-las, pois o excesso de proteção seja dos pais ou até da própria sociedade civil, nos tornou incapazes mesmo de sentir intensamente, isso inclui os prazeres. Os jovens não ouvem de verdade a música, não se apaixonam de verdade, não admiram bons livros, pinturas ou filmes, pior, nem suas festas pueris eles de fato aproveitam, prova cabal disso é o excesso de fotos onde através de sorrisos forçosos eles externam o prazer de ali estar, que, seria nulo, não fosse pelos registros fotográficos que posteriormente serão colocadas em murais e receberão afeição pela afeição, pela necessidade do prazer após o ato e não no ato em si. O que poderíamos bem chamar de onanismo sem tesão.

                “Daí resulta que tudo quanto não é imediato, o passado e o futuro, atuam mais fracamente na mulher do que em nós: é também daí que parte a tendência muito frequente para a prodigalidade,…” Eis a tendência marxista, voilà! Todo o argumento marxista se fundamenta e se constrói sobre essa tendência do jovem. Por mais que muitas vezes ele conheça a história do passado e os fatores que a circundam, o argumento “deturparam Marx”, nunca foi tão utilizado. Todos deturparam Marx, Mao Tsé, Fidel, Kim Il-sung, Stalin, até Lenin que dizia aos quatro cantos que haviam deturpado Marx, também o deturpou segundo os jovens de hoje. Visto que o comunismo e o socialismo são impraticáveis, continuam defendendo-o com o falso ímpeto de ajudar a todos, muitas vezes esses jovens ignoram grotescamente os moradores de rua que vivem a poucos quilômetros de suas casas, se quer conseguem ajudar a si mesmos a viverem de forma independente, imagine o tamanho da petulância ou na melhor das hipóteses, da ignorância de querer cuidar da sociedade toda.  Graças a ausência dos esforços, os louros não lhe são percebidos, vivem normalmente à sombra de seus genitores que lhes deram muito sem que houvesse uma troca ou mesmo um entendimento da raiz dessas benesses que lhes foram dadas, quase uma graça divina, no caso, como as escolas ensinam que Marx era o próprio Deus, eles creem exatamente nisso.

                A tendência à injustiça, não é longínqua a esse pensamento e se atrela ao seguinte: “…é que a natureza, recusando-lhes a força, deu-lhes a astúcia, para lhes proteger a fraqueza…” “É justamente por esse motivo que ela compreende tão facilmente a dissimulação dos outros e que não é prudente usá-la contra ela.” Devido a isso, observamos sempre os jovens, usando-se de artimanhas retóricas para suas falas, e essas falas quase nunca são claras. Observamos as discussões em geral, o objeto da discussão sempre acaba em segundo plano e as caracterizações secundárias e talvez terciárias do objeto, são elevadas, para que então através de uma erística nata, uma dissimulação natural, criada tanto do debatedor mesmo, quanto sobre objeto da discussão. Comumente, vemos os esquerdistas, chamando as pessoas de fascistas ou nazistas, mesmo sendo fato público que ambas doutrinas são vertentes do pensamento esquerdista. E do segundo trecho, tiramos uma clara evidência do pensamento Gramscista, onde, por mais que haja divergência entre os esquerdistas e suas falácias, eles sempre se unem para combater a verdade sobre os fatos, daí, presumo eu, que se origina o pensamento vitimista, onde os esquerdistas se encontram e para não sofrerem com a derrota derradeira nos argumentos, vivem a enfumaçar as mentes dos mais incautos e todos se unem sob a mesma faceta do pensamento compulsivamente mentiroso, onde a própria verdade é distorcida. Eis que chegamos ao Brasil. –sic

                Admito uma certa petulância da minha parte de traçar esse paralelo, porém, após ler pela terceira vez essa obra, tive esse breve vislumbre. Lembrando, o paralelo é com o jovem brasileiro, que por menos esquerdista que seja, tem suas tendências minimamente levadas ao marxismo, e antes que incutam em mim, eu assumo, vivo a me policiar para não cair também nesse engodo. Em breve, parte 2.

                Lembrando também, que não concordo com o que Schopenhauer pensava a respeito das mulheres, apenas vejo que as observações que ele fazia acerca do assunto são praticamente um paralelo com o jovem atual.

Autor: José Galdino

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