Tática ou totalitarismo: Por que Trump ordenou ataque à base na Síria

A guerra atual na Síria

A Síria é um país no Oriente Médio. E por essa localização tem importância geopolítica para as grandes potenciais mundiais. Importância derivada do petróleo e oleodutos da região, pela localização estratégica do ponto de vista militar.  E por ser uma via de acesso para os islâmicos acessarem a Europa.

A Rússia e a China apóiam o governo atual do (ditador) presidente Bashar al-Assad por conta de seus interesses na região. A Rússia com envolvimento direto no conflito dando vários suportes a Bashar al-Assad. Os EUA são contra Bashar al-Assad porque é um ditador e que cometeu crimes contra a humanidade. Ao mesmo tempo, ele é um entrave para o avanço do ISIS na região, que é um inimigo pior para os EUA.

Esta oposição entre Rússia e China de um lado e os EUA do outro, fazem do conflito na Síria um potencial foco de início para uma 3ª Guerra Mundial.

A atual guerra na Síria começou em meados de 2011 como mais uma etapa do movimento que varreu o Oriente Médio que ficou conhecido como Primavera Árabe. Levantes e revoltas populares em vários países do Oriente Médio visando derrubar os governos mais ou menos ditatoriais daquela região. Em alguns locais foi rápido e sem maiores conflitos  (como na Tunísia e Egito). Em outros foi mais sangrento como na Líbia. E o mais extremo até aqui tem sido o conflito na Síria. As demandas das populações daqueles países por mais liberdade são legítimas. Entretanto, estão sendo usados por grupos poderosos para derrubar governos ruins e colocar coisas piores no lugar como o ISIS. Porque forças apoiadas pela Irmandade Muçulmana são as únicas com poder e organização na região para assumir as ruínas dos governos derrubados.

Neste momento, na Síria, temos basicamente 4 grupos principais em conflito (divididos em subgrupos com pouca coesão interna):

  • O primeiro grupo é o governo atual de Bashar al-Assad que controla cerca de 35% do território e 65% da população. Eles estão vencendo a guerra.
  • O segundo grupo é a Oposição Síria ou Exército Sírio de Libertação (na verdade, várias grupos na coalizão). Este grupo é a continuidade daquele que iniciou a oposição armada ao governo Assad.
  • O terceiro grupo é o Rojava que controla o noroeste da Síria. Com viés comunista.
  • O quarto grupo é o ISIS ou Estado Islâmico que controla aproximadamente 33% do território e 10% da população, principalmente no centro e sudoeste do país. É o grupo amplamente conhecido pelos crimes e brutalidade na imposição da lei islâmica nos territórios sob seu controle

Na prática, nenhum deles é uma boa opção para o povo sírio. Ou são explicitamente criminosos e terroristas, apóiam ditadores ou tem suporte de terroristas. E todos já cometeram graves crimes contra a população. Podemos destacar como o mais nocivo, o ISIS, pela sua natureza explicitamente criminosa.

Algumas forças de menor relevância podem ser consideradas benéficas, desde milícias cristãs até grupos de voluntários estrangeiros (principalmente, europeus). Sem relevância no contexto geral do conflito.

Cabe lembrar que Bashar al-Assad é um ditador que governa o país desde o ano 2.000. E que o pai liderou a ditadura no país durante 30 anos.

O ataque químico e a resposta americana

Segundo fontes da inteligência americana o governo Assad ordenou um ataque com gás sarin contra sua própria população em 04 de abril de 2017. Um ataque de arma química contra população civil. Este gás mata principalmente por sufocamento. Mais de 100 mortos, incluindo mulheres e crianças.

Como reação a este ato, em 07 de abril de 2017, Donald Trump ordenou um ataque com mísseis tomahawk lançados de destróieres americanos no Mar Mediterrâneo, contra uma base da força aérea síria. Devido à base ser indicada pela inteligência americana como origem do lançamento do ataque de gás e depósito de armas químicas. Foram lançados cerca de 60 mísseis.

Esta ação de Trump gerou imediatas críticas internas, pois vai na contramão do seu discurso durante a campanha onde se dizia contrário aos EUA fazerem intervenções em outro país para mudança de regime. Além dos fortes indícios de que o ataque químico foi um ” ataque de falsa bandeira “; um ataque para incriminar Bashar al-Assad que não teria motivos para atacar agora, considerando que está vencendo a guerra.

Do ponto de vista técnico Donald Trump não cometeu um ato de guerra. Ele ordenou um ataque localizado, preciso e justificado a um alvo militar de um país governado por uma ditadura e que feriu acordos internacionais (que os EUA são signatários). Ele agiu fora do que autoriza a Constituição Americana e dentro do que permite a lei (que dá possibilidade do presidente americano declarar guerra por 90 dias e depois obter autorização do congresso para continuar). É uma brecha criada na década de 70 que vem sendo usada pelos presidentes deste então e ainda não foi solucionada.

Além da justificativa humanitária. E também foram tomadas medidas para evitar perdas de vidas humanas, incluindo aí soldados russos que estavam na base que foi atacada. Soldados russos que se tivessem sido mortos sem aviso, haveria graves implicações.

Independente da responsabilidade direta pelo ataque químico não ser de Assad, ele é o presidente do país e durante algum tempo teve armas químicas também. Não é possível afirmar que as armas usadas não foram algum dia de seu arsenal.

A tática por trás da ação de Donald Trump

No contexto global, o ataque ordenado por Donald Trump parece ser uma imensa ação de Relações Públicas:

  • Donald Trump deixa claro seu distanciamento de ditadores como Bashar al-Assad
  • O ataque foi ordenado quando Donald Trump recebia a visita do (ditador comunista) presidente da China, Xi Jinping. Desde a posse de Donald Trump os chineses vêm elevando o tom do discurso contra os EUA.

  • É uma demonstração direta para os norte-coreanos de que o atual governo americano vai sim usar a força.
  • Confunde e desmobiliza parte da oposição interna nos EUA que vem atacando Trump com a acusação de que este é influenciado pelo (ditador) presidente russo, Vladimir Putin. Ao atacar a Síria unilateralmente, contra os interesses diretos dos russos, Trump tira força de parte de seus críticos.
  • Enfraquece a posição de Vladimir Putin, que vinha recorrentemente reforçando sua imagem de liderança, principalmente no cenário do conflito na Síria, em detrimento da imagem de impotência ou ineficiência que os EUA tinham até o momento.
  • Trump também desmobiliza parte da estratégia de ocupação islâmica da Europa e EUA usando terroristas infiltrados em meio aos refugiados sírios. Pois, ao atacar o regime de Assad, reforça a oposição local e os que querem ficar para lutar.

Donald Trump é um gênio. Com um capacidade de percepção e ação que eu tenho dificuldade de compreender. Além de estar numa posição com acesso a informações que nós jamais iremos conhecer.

Sabemos que parte da equipe de administração dele não são verdadeiros aliados do projeto que Donald Trump tem em mente. Ele tem muitos conselheiros que são ligados ao Conselho de Relações Internacionais (um importante braço dos globalistas). E estes vão sim tentar induzir Donald Trump ao erro e, principalmente, a alguma guerra inútil.

Eu acredito na explicação sobre o grande ato de Relações Públicas. Mandar um recado em alto e bom tom para os inimigos da América em todo o mundo de uma vez só. Confundir outros. E preparar o terreno para medidas mais drásticas que virão pela frente.

Não me julgo capacitado para opinar se foi um erro ou um acerto até aqui. Também me falta conhecimento pra saber se era possível atingir o mesmo resultado por outro caminho. Acredito que o que vai definir isso são os próximos passos de Donald Trump com relação aos principais conflitos atuais seja na Síria, com russos, chineses ou norte-coreanos. E lembrar que uma das características do nosso lado, da verdade e da liberdade, é que ninguém está acima de críticas e de ser chamado à responsabilidade ou se corrigir. Nem mesmo Donald Trump.

Facebook Comments

Author: Vanderlei Dallagnolo

Leave a Reply

Your email address will not be published.